domingo, 13 de setembro de 2009

Jung e a Educação

1. Quem foi CG Jung

Carl Gustav Jung nasceu em 26/07/1875, Kesswil, Suíça. Aos 4 anos mudou-se para Klein-Hunnigen, nos arredores da Basiléia, pois seu pai era pastor protestante e fora transferido para lá. Foi em Basiléia que Jung estudou e se formou médico.

Devido ao seu interesse por filosofia, pelas ciências naturais e médicas não se especializou em clínica médica e sim em psiquiatria, o qual concluiu em 1900 aos 25 anos e foi para Zurique ocupar o cargo de segundo assistente no Hospital Burgholzli.

Em 1902, passou a ser primeiro assistente e defendeu sua tese de doutoramento (Psicopatologia dos Fenômenos ditos Ocultos).

Em 1903, casou-se com Emma Rauschenbach e tiveram 5 filhos. Ele gostava de escalar montanhas e velejar no lago de Zurique.

Entre 1907 e 1912 estabeleceu-se estreita relação entre Freud e Jung. Após o livro de Jung, Metamorfoses e Símbolos da Libido, suas idéias divergeram das de Freud e eles romperam.

Para a compreensão dos sonhos Jung aprofundou seus estudos em história, mitologia, religião e alquimia. Após as pesquisas, Jung postulou o conceito de inconsciente coletivo.

Morreu na primavera de 1961, 06 de junho, em sua casa que ficava às margens do lago de Zurique.

2. Educação

Em seus estudos, Jung cita três tipos de educação: a educação pelo exemplo, a educação coletiva e a educação individual.

Deve-se levar em conta que a criança inicia seu aprendizado através da imitação, seja dos pais, irmãos, familiares e também do professor, ou seja, imita-se o andar, o comer, o falar, um determinado gesto, etc, mas esta imitação nem sempre é eficiente, pois, não há imitação apenas das coisas corretas e sim de tudo, sem fazer qualquer distinção entre o certo e o errado.

A educação coletiva é aquela que possui regras, símbolos e princípios (sempre coletivos) e que, como o próprio nome sugere, deve ser aplicada a um grupo com vários indivíduos. De forma geral esses indivíduos conseguem segui-los porque foram “treinados” para isso. Deve-se prestar a atenção nas qualidades específicas individuais para que possam ser capazes de realizar tarefas sozinhos.

No terceiro tipo de educação, “as regras, princípios e métodos ficarão subordinados ao objetivo único de permitir a manifestação da individualidade específica da criança” (Silveira, 2000, p. 155). Deverá ser encontrado um caminho pelo qual o educador possa entender seu aluno e assim proporcionar meios para que ele entenda o conteúdo. É interessante que se conheça o tipo psicológico da criança em questão, pois, a partir disso pode-se trabalhar de uma forma com que a criança entenda com mais facilidade o que lhe é ensinado e o que ela não consegue aprender.

Para Jung, o educador não deve ser um mero transmissor de conhecimento, e sim uma pessoa que tenha capacidade de influenciar as crianças para desenvolverem sua personalidade. O sucesso na aprendizagem não depende somente do método, mas também de conscientizar a criança de que ela pode se desenvolver individualmente inserida em uma educação coletiva.

3. As funções junguianas e a aprendizagem

Segundo Fagali (2000), pode-se fazer algumas relações entre um determinado tipo psicológico (descrito por Jung) e sua forma de aprender.

Dessa forma, na função sentimento em situação de aprendizagem o objeto do saber tende a ser avaliado de forma dual, bom-mau, feio-bonito, sendo a aprendizagem significativa em função destes valores. Os desenhos são associados a relações vinculares e projeções emocionais. O espaço é visto como um contexto de conflito ou de responsabilidades de relações vinculares, onde se projetam sentimentos. Apresentam-se associados ao vivido no passado. A subjetividade é predominante ao expressar e captar as emoções, ao interpretar ou criar textos. O princípio do gostar e do não gostar rege as relações. Na escrita, na leitura e composição de textos, predomina o juízo de valor, o posicionamento subjetivo da realidade associada a ética, ao prazer e desprazer. A narrativa predomina, e os temas mais envolventes são os conflitos da personagem.

Na função pensamento em situação de aprendizagem o objeto do saber é sempre associado a pergunta: “por quê?”, “para quê?” ou “o que é?”. Os desenhos se apresentam de forma conceitual, esquemática e explicativa. Há presença de uma explicação com causas e efeitos. Utilização demasiada de conceituações e definições. Valorização temporal do antes e depois. Reflexões teóricas. A compreensão dos fatos por meio de desafios e enigmas lógicos são elementos motivadores. Nas demonstrações dedutivas e sistematizações passo a passo dos processos de raciocínio. Pesquisas de causa e efeito em relação aos estudos humanos e sociais.

Na função perceptiva em situação de aprendizagem há ênfase na observação, na procura da objetividade dos fatos. O contato com as propriedades sensoriais do objeto, buscando uma descrição objetiva, como se pudesse captar as suas forças. Tende a descrever as sensações internas, sensoriais, corporais provocadas pelos objetos; ou a descrever as propriedades do mundo externo. O desenho é expresso em formas e cores. Há preocupação pelo estético, pela boa forma. A ênfase temporal está no presente, no imediato. A escrita se manifesta com um estilo descritivo, trazendo atributos sensoriais (sons, formas, espacialidade), ou prendendo-se a ações das personagens ou a descrições do ambiente. As frases se apresentam com poucas articulações e períodos longos. Nos conteúdos a tendência é buscar o impírico, fórmulas concretas, práticas e econômicas, sem muitas elaborações e explicações teóricas. As reflexões são mais pragmáticas e imediatistas.

Na função Intuitiva em situação de aprendizagem as pessoas tendem a entrar em contato com as totalidades e generalidades.. São atraídas pelo que ainda não existe, o oculto, o místico. Elas encontram satisfação no diálogo como jogo do possível e da fantasia, que transcende o aqui e agora. Estão voltadas para o futuro e para as origens misteriosas e hipotéticas. Na escrita, tendem ao jogo de associações, da estimativa, chegando muitas vezes à ficção, ao futurismo. Apresentam associações abundantes de viagens imaginárias e estimativas, mas as construções muitas vezes parecem vagas, soltas, pouco precisas. Suas estruturas lingüísticas se apresentam de forma indireta, com muitas metáforas e com uma ordem toda própria que foge à linearidade. Os períodos tendem a ser longos, com poucas articulações. Resistem perante o preestabelecido, planejado e controlado antecipadamente. Não há uma tendência a focar ou a se envolver com as propriedades do fenômeno, no presente, no real, no “aqui e agora”, tendendo a desviar sempre para estimativas, além do presente. Há uma grande motivação para o uso de diferentes linguagens, principalmente o não verbal. As artes e as metáforas são grandes facilitadoras para as possibilidades de expressão. A história tem um colorido especial, quando enfatiza as origens e as extrapolações futuras. As artes ocupam um espaço de grandes possibilidades para sua expressão.


Bibliografia:

FAGALI, Eloísa Q. Por que e como Psicopedagogia Institucional in Revista
Psicopedagogia 17(46) – 1998.

FAGALI, Eloísa Q. Múltiplas Faces do Aprender. São Paulo, Frôntis, 2000.

FRANZ, Marie Louise von. A Tipologia de Jung. São Paulo, Cultrix, 1990.

JUNG, Carl Gustav. Tipos Psicológicos. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.

JUNG, Carl Gustav. Fundamentos de Psicologia Analítica. Rio de Janeiro,
Vozes, 10ª ed, 2001.

RUBY, Paulo. As Faces do humano. Estudos da Tipologia Junguiana e
Psicossomática. Oficina de Textos. 1998.

SILVEIRA, Nise da. Jung: Vida e Obra. São Paulo, Paz e Terra, 2000.

Autora: Claudia Rossi
Especialista em Psicopedagogia (PUC/SP)

2 comentários:

  1. O mergulho psicopedagógico, seja institucional ou na individualidade do ser único e indivisível, fará com educandos e educadores interajam no aprender a apreender com erros e acertos, sendo o primeiro um fator de correção de rumos para uma assertividade marcante na qualificação educacional do indivíduo e com rebatimento para a aprendizagem coletiva ao contribuir para a normalidade social e para libertação das disfunções e contradições de nosso viver social. ( DSB )

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